O dia em que o mundo se uniu para mandar Galvão Bueno se calar

05/02/2023 às 10h30

Por: Fábio Marckezini

Em 2010, a Seleção Brasileira buscava o hexacampeonato na Copa do Mundo, que seria, pela primeira vez, realizada em um país africano. A África do Sul fez uma grande festa e apresentou para o mundo a famigerada vuvuzela, uma corneta que protagonizava uma verdadeira algazarra em todos os jogos.

Além do instrumento escandaloso, outro assunto fez barulho e trouxe dor de cabeça para um dos maiores narradores brasileiros: Galvão Bueno.

Ao longo dos anos, o público sempre viveu um caso de amor e ódio com Galvão. Inúmeras vezes vimos em estádios faixas com a frase “Filma eu, Galvão!”, com pedidos de abraços e elogios. Entretanto, naquela época, as críticas se acentuaram por parte dos espectadores brasileiros.

Como assim?

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Tudo começou no dia 10 de junho de 2010, antes do primeiro jogo da competição, no grande show de abertura com Shakira (foto acima), Black Eyed Peas e artistas locais, transmitido pela Globo, justamente sob o comando de Galvão.

Com suas frases e bordões, o narrador irritou o público, que foi ao Twitter reclamar. Esse movimento ficou entre os assuntos mais citados no Brasil. A partir de então, começou uma campanha para que a frase “Cala boca, Galvão!” viralizasse no mundo. Como a campanha atingiu diversos países que desconheciam o narrador, muitos estrangeiros questionaram qual seria o significado daquela frase.

De uma forma bem-humorada e inteligente, o artista visual Fernando Motoles criou um vídeo, com locução em inglês, “explicando” o motivo da mobilização: Galvão, na verdade, seria um “pássaro” ameaçado de extinção, que um tal cientista de nome Frey Galvão tentaria defender por meio de uma cápsula protetora. Ainda, segundo a invenção de Motoles, cada tuíte citando a famigerada frase resultaria em 10 centavos para manter uma suposta instituição de proteção animal.

Por ser tão bem elaborada, a farsa ganhou ainda mais destaque no mundo: The New York Times, El Pais e outros veículos relevantes reportaram o fato. A própria revista Veja trouxe na capa o assunto, mostrando a força do Twitter.

Não gostou

Em contrapartida, Galvão não gostou nem um pouco da brincadeira e o assunto não era tratado nas transmissões e nos programas da Globo. No jogo de estreia, entre Brasil e Coreia do Norte, era possível ver uma faixa na arquibancada com a famosa frase que virou hit no Twitter.

Em seu livro “Fala, Galvão”, o narrador citou como recebeu o fato. “O ‘Cala a boca, Galvão!’ foi uma das coisas mais incríveis que me aconteceram nesses anos todos de estrada. Foi como se um míssil nuclear tivesse caído na minha cabeça”, descreveu.

“Eu sabia que alguém tinha começado essa história por achar que eu havia falado muito na transmissão da cerimônia. Eu falo muito mesmo. Aí esse alguém criou e disponibilizou o vídeo do “Cala a boca, Galvão” na internet, isso virou um rastilho de pólvora e foi crescendo. Fiquei assustado, de verdade, quando pensei que tinha uma Copa inteira pela frente. Como é que eu faria?”, completou.

Encerrando a história

Para encerrar de vez o constrangedor silêncio do locutor, Galvão finalmente se rendeu e decidiu falar sobre o assunto, de forma descontraída, no programa Central da Copa, apresentado pelo jovem Tiago Leifert, que fazia grande sucesso à frente do Globo Esporte São Paulo com seu jeito divertido e informal.

Na entrevista, o experiente narrador disse que era a favor da campanha e relembrou um apelido dado por Ayrton Senna: “Narrador fala muito né? Então o meu amigo Senna me chamava de papagaio, de forma carinhosa, então estou dentro da campanha”, declarou Galvão.

Após essa declaração, a piada foi perdendo força e ficou apenas na lembrança dos espectadores. Esse fato foi importante para a TV Globo notar a força das redes sociais e a importância do bom humor em seus programas esportivos, ressaltando que a melhor maneira de lidar com situações jocosas é tirar proveito da piada para conquistar a audiência.

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