Inimigos mortais: dirigente divulgou rival em camisa para provocar Globo

Eurico Miranda foi um dos cartolas mais controversos e polêmicos do futebol brasileiro. À frente do Vasco, o dirigente ganhou títulos e se envolveu em alguns escândalos.

Eurico e Romário no Vasco em 2001 (Reprodução / Web)

Um dos episódios que marcaram a carreira de Eurico aconteceu na final da Copa João Havelange, em 2000. Para enfrentar a Globo, ele usou o maior rival da emissora carioca: o SBT.

No dia 30 de dezembro de 2000, Vasco e São Caetano fariam a final da Copa JH, o Brasileirão daquele ano. No primeiro jogo, disputado no Palestra Itália, em São Paulo, a partida terminou empatada em 1 a 1.

O acidente

O último jogo foi em São Januário, no Rio de Janeiro, e a torcida vascaína lotou o estádio. Aos 40 minutos do primeiro tempo, ocorreu um tumulto na arquibancada e as pessoas foram caindo uma em cima das outras. O impacto foi tão forte que derrubou parte do alambrado.

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O jogo foi paralisado e os torcedores foram atendidos dentro do gramado. Ambulâncias e até um helicóptero participaram do atendimento, mostrando que tudo tinha virado um caos.

Mas Eurico Miranda passava pelos feridos e pedia para que todos saíssem de lá para a partida recomeçar.

O então governador Anthony Garotinho determinou que a partida fosse suspensa, o que revoltou Eurico, que colocou a culpa no governo do Rio e na Globo.

A partida acabou sendo remarcada para o dia 18 de janeiro de 2001.

A provocação

A Globo transmitiu o jogo, mas foi pega de surpresa quando o time do Vasco entrou em campo: o símbolo do SBT estampava a camisa do clube. Por duas horas, a emissora de Silvio Santos teve sua marca na tela da rival.

A torcida entrou no embalo e cantava “Fora Globo, Fora do Brasil”, “Ão, ão, ão, é o jogo do milhão” e “Isso é ritmo de festa!”.

O Vasco ganhou por 3 a 1 e se sagrou campeão da Copa João Havelange.

Já o SBT alegou que não foi consultado e tampouco autorizou o uso de sua marca, afirmando que o jurídico da emissora entraria em campo para tratar a questão.

Antônio Soares Calçada, um dos diretores do Vasco, disse a Folha de S. Paulo que nada daquilo era uma provocação:

“Conheço o Silvio há mais de 30 anos. Quis prestar essa homenagem”, afirmou.

Ataques de todos os lados

A Globo não quis saber da “homenagem” e foi para o contra-ataque: suspendeu o pagamento de cotas de televisão e fez inúmeras matérias sobre os bens de Eurico Miranda, acusando-o de corrupção e enriquecimento ilícito.

Em entrevista ao Programa do Ratinho, Eurico disse que a Globo manipulou as imagens do dia do acidente para prejudicar o Vasco.

“Quando a Globo manipulou aquelas imagens do acidente de São Januário, porque a fita que eu tenho gravada do seu Galvão Bueno dizia que a posição que todos tinham que assumir era a do Eurico Miranda, que só se interessava em cuidar dos feridos. Depois, eles fizeram uma montagem. Quando receberam uma ordem, porque a novela se aproximava e não podia mais ter jogo de futebol, eles mudaram o discurso. Mas ele não podia concordar com a manipulação de imagens”, disse o cartola.

Um homem ressentido

Em 2017, no programa Bola da Vez, da ESPN, Eurico falou sobre o assunto e afirmou que na época estava chateado com várias situações.

“Eu estava magoado com uma série de situações, de não ter recebido, de ter disputado dois campeonatos –e acabei ganhando os dois, a Mercosul e o Campeonato Brasileiro. Não posso dizer que me arrependo das coisas, porque não seria justo. O que posso dizer é que, se fosse hoje, eu não faria. Mas não me arrependo”, relatou.

Eurico Miranda morreu no dia 12 de março de 2019, aos 74 anos, vítima de um câncer no cérebro. A Globo noticiou a morte do cartola e relembrou sua trajetória nos programas esportivos.